Está de fato de acordo com a natureza do Deus invisível que ele deva ser conhecido por meio de suas obras, e aqueles que duvidam da ressurreição do Senhor por não poderem vê-lo com os próprios olhos poderiam igualmente negar as próprias leis da natureza. Eles têm razão de não crer quando faltam as obras. Mas quando estas são gritantes e comprovam o fato de modo tão claro, por que negam deliberadamente a vida ressuscitada que se mostra de modo tão manifesto? Mesmo se as suas faculdades mentais são deficientes, com certeza os olhos podem dar-lhes provas irrefutáveis do poder e divindade de Cristo. Um cego não pode ver o sol, mas sabe que o sol está sobre a terra devido ao calor proporcionado por ele. De modo semelhante, que aqueles que ainda estão na cegueira reconheçam a divindade de Cristo e a ressurreição que ele efetuou no seu poder manifestado aos outros. É óbvio que ele não estaria expulsando maus espíritos e espoliando ídolos, se estivesse morto, pois os maus espíritos não obedeceriam a alguém que não estivesse vivo. Se, porém, a simples menção do seu nome os expulsa, ele claramente não está morto. Isso é corroborado pelo fato de que os espíritos, que percebem coisas invisíveis aos homens, se ele estivesse morto sabê-lo-iam e se recusariam a obedecer-lhe. Mas, na realidade, aquilo de que pessoas profanas duvidam os maus espíritos sabem - especificamente que ele é Deus, e por essa razão eles fogem dele e prostram-se aos seus pés gritando exatamente como gritavam quando ele estava no corpo: "Sabemos quem tu és, o Santo de Deus" e "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes."
Pela confissão dos maus espíritos, bem como pelo testemunho quotidiano das obras dele, fica evidente, então, e que ninguém duvide disso, que o Senhor ressuscitou seu próprio corpo, que ele é o verdadeiro Filho de Deus que tem seu ser de Deus como Pai, cuja Palavra, sabedoria e poder ele é. Foi ele que nos últimos tempos assumiu um corpo para a salvação de todos nós e ensinou o mundo a respeito do Pai. Foi ele que destruiu a morte e livremente nos agraciou a todos com a incorrupção por meio da promessa da ressurreição, tendo ressuscitado o próprio corpo como as primícias e tendo-o exibido por meio do sinal da cruz como o monumento da sua vitória sobre a morte e sua corrupção.
[Sobre a encarnação do Verbo - Atanásio]